Estágio
Impacto Duradouro do Assédio Moral no Ambiente Profissional – A Luta Silenciosa de Um Engenheiro
Photo by Clker-Free-Vector-Images on Pixabay
Maurício*, então estudante de engenharia elétrica, experimentou uma mistura de alegria e entusiasmo quando foi selecionado para um estágio em uma renomada empresa de tecnologia em 2016. Contudo, essa animação foi rapidamente substituída por tristeza e ansiedade devido ao tratamento degradante que recebia de alguns colegas.
Próximo de se formar, Maurício buscava se destacar como estagiário, com o objetivo de ser contratado pela companhia. Nas reuniões, ele fazia questão de expor suas ideias e sugestões, mas essas eram frequentemente recebidas com comentários sarcásticos e risadas desdenhosas de determinados colegas.
O Início do Tormento: Sinais Sutis de Bullying
Inicialmente, Maurício sentia um leve incômodo, mas reprimia esse sentimento, acreditando que as reações eram meras brincadeiras. No entanto, à medida que o tempo passava, os deboches se intensificavam, e o desconforto se tornava cada vez mais evidente.
> ‘Me sentia excluído, ignorado, ridicularizado’, relata Maurício, descrevendo a sensação avassaladora de isolamento que experimentava.
O Impacto Silencioso: Encolhendo-se em Si Mesmo
Aos poucos, Maurício foi ‘murchando’, como ele mesmo descreve. Nas reuniões, passou a ficar em silêncio, evitando expor-se a mais humilhações. O trabalho, que deveria ser uma oportunidade de crescimento, transformou-se em um fardo em sua vida.
No entanto, Maurício nunca compartilhou sua angústia com ninguém, sentindo-se envergonhado pela situação. Ele adotou uma abordagem de isolamento, limitando-se a cumprir suas obrigações e partir imediatamente após o expediente, sem interagir com seus colegas.
> ‘Eu chegava no estágio, fazia o que tinha que fazer, e ia embora sem falar nada com ninguém’, recorda Maurício, evidenciando o impacto devastador que o assédio moral exerceu sobre sua autoconfiança e bem-estar emocional.
Cicatrizes Emocionais: Um Legado de Medo e Ansiedade
Quando seu contrato de um ano terminou, Maurício deixou a empresa sem se despedir de ninguém, temendo chamar atenção indesejada para si mesmo. Hoje, embora trabalhe em um ambiente mais acolhedor, ele se tornou uma pessoa ‘fechada’, incapaz de estabelecer amizades e permanecendo em silêncio sempre que possível nas reuniões.
Quando compelido a participar, suas mãos tremem, ele gagueja, e seu coração palpita. Mesmo que as pessoas o levem a sério agora, Maurício sente que ficou ‘paranóico’, com a impressão constante de que todos estão julgando cada palavra que ele profere.
Compreendendo o Bullying no Ambiente de Trabalho
O psicólogo Lucas Franco Freire explica que o bullying no local de trabalho, também conhecido como ‘mobbing’, é uma estratégia utilizada para diminuir a autoestima da vítima e pode desencadear um estresse brutal, levando ao adoecimento.
De acordo com Freire, o bullying é uma agressão direta e explícita, geralmente perpetrada por colegas de trabalho. Exemplos incluem:
– Apelidos depreciativos
– Desmerecimento do trabalho de outra pessoa
– Intimidação com chantagens verbais
– Brincadeiras que diminuem o indivíduo
Consequências Devastadoras: Do Estresse à Fobia
Os efeitos do bullying incluem altas cargas de estresse, crises de ansiedade, ataques de pânico, fobia e diminuição drástica da autoestima, podendo levar à exaustão emocional conhecida como burnout.
Freire relata casos em que os trabalhadores chegam a pensar na possibilidade de se envolverem em acidentes de trânsito como forma de evitar comparecer ao trabalho, um comportamento de esquiva gerado pela aversão ao ambiente hostil.
> ‘É um comportamento de esquiva gerado pela aversão ao trabalho. Muitas pessoas se sentem dessa forma’, revela o psicólogo, destacando a gravidade das consequências emocionais do assédio moral no local de trabalho.
Implicações Legais: Assédio Moral é Crime
Legalmente, o bullying no ambiente de trabalho é equiparado ao assédio moral. A advogada trabalhista Larissa Escuder explica que ‘todo comportamento que incida em violência moral ou psicológica se enquadra em assédio moral’.
As empresas têm a responsabilidade legal de manter um ambiente de trabalho saudável e podem ser responsabilizadas por indenizar os empregados vítimas de bullying, de acordo com o Artigo 186 do Código Civil.
Escuder ressalta que a prática do bullying é um crime, e quem o comete pode ser condenado a detenção por até dois anos e multa, por atentar contra a dignidade de outra pessoa.
Rescisão Indireta: Uma Saída para as Vítimas
Além disso, a prática do bullying pode gerar a rescisão indireta do contrato de trabalho, conforme o artigo 483 da CLT. ‘Ou seja, o empregado que estiver sendo vítima de assédio moral pode ajuizar ação pleiteando a rescisão indireta do contrato de trabalho, que possui os mesmos efeitos da dispensa sem justa causa’, explica Escuder.
Nesse caso, o empregado teria direito, entre outros benefícios, ao levantamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e, se for o caso, ao seguro-desemprego.
Medidas Preventivas: O Papel das Empresas
Para o psicólogo Lucas Freire, é crucial que as empresas adotem medidas preventivas e de combate ao bullying, incluindo a disponibilização de canais de denúncia e escuta. ‘Quem sofre, precisa ser escutado’, afirma.
Freire sugere que as empresas construam credibilidade para que a vítima se sinta confortável em denunciar o assédio, sem ser julgada. Isso pode ser feito por meio de uma assessoria externa para gerar escuta e acolhimento, com o envolvimento de psicólogos organizac
Para informações adicionais, acesse o site