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Retorno ao DOI-Codi – A Luta de um Ex-Prisioneiro Contra o Esquecimento da Ditadura
Emilio Ivo Ulrich passou anos sem conseguir expressar os horrores que viveu nas mãos da ditadura militar brasileira, iniciada em 1964. Após décadas, Ulrich decidiu retornar ao local de seus tormentos, o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), para colaborar com uma pesquisa que visa preservar a memória dos crimes cometidos durante esse período sombrio da história brasileira.
A Captura de Ulrich
Membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Ulrich foi perseguido e capturado pelos militares. Durante um ano, ficou preso e passou por interrogatórios brutais no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). ‘E depois eu fiquei em liberdade vigiada. Eu tinha que assinar um livro na auditoria militar toda semana. Eu estava preso, só que estava na rua’, rememora.
O Terror do DOI-Codi
No DOI-Codi, Ulrich foi submetido a torturas e presenciou inúmeros abusos de direitos humanos. Um dos rostos mais marcantes desse período era o do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que se movia livremente pelo complexo. Hoje, os acontecimentos nesse local são objeto de estudo(https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-08/escritos-de-presos-politicos-podem-surgir-em-escavacoes-no-doi-codi) de pesquisadores de diversas universidades brasileiras.
A VPR e a Resistência à Ditadura
A VPR, formada principalmente por estudantes e ex-militares, surgiu em 1968 como resposta à ditadura militar. Ulrich, que não era comunista, assumiu essa identidade como estratégia de sobrevivência. ‘Claro que eu disse que eu era comunista. Apanhei muito por dizer que não era comunista. Depois apanhei por dizer que era. Disse isso para poder me livrar do pau-de-arara’, explica.
A Pesquisa e o Retorno ao DOI-Codi
Após anos sem pisar no DOI-Codi, Ulrich decidiu colaborar com a pesquisa que busca preservar a memória do local. Ele é uma das vítimas da ditadura que está contribuindo com suas lembranças para dar sentido aos objetos e vestígios encontrados pelos pesquisadores.
A Memória Como Alerta para o Futuro
O projeto de pesquisa tem como um de seus principais objetivos preservar a memória do DOI-Codi como registro histórico e advertência para o futuro. Segundo Deborah Neves, coordenadora do Grupo de Trabalho Memorial Doi-Codi, não eram apenas os combatentes armados que eram perseguidos. ‘Qualquer pessoa que contestasse as arbitrariedades de quem estava no poder’ poderia se tornar um alvo, observa.
Mulheres: Duplamente Vítimas
Durante seu tempo de prisão, Ulrich testemunhou a dupla vitimização das mulheres detidas: além de serem torturadas, muitas eram também estupradas pelos militares. Ulrich também relata a presença macabra da esposa de Ustra, Maria Joseita Silva Brilhante Ustra, que conversava com as presas políticas, argumentando que deveriam ter se comportado de uma maneira mais condizente com o que ela acreditava ser o papel das mulheres.