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Reflexões sobre Capitalismo, Religião e Trabalho – Um Estudo da Ira e da Neblina

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Introdução

Walter Benjamin, em 1921, propôs uma interessante conexão entre capitalismo e religião, sugerindo que o sistema capitalista age como uma religião, oferecendo respostas para os medos e inquietações que antes eram tratados pela religião. Embora não haja uma teologia no capitalismo, a religiosidade do sistema é puramente ritualística, conferindo ao utilitarismo um matiz religioso.

As Características do Culto Capitalista

A percepção do capitalismo como um culto permanente traz consigo um mecanismo monstruoso de ampliação da consciência de culpa. Assim, como não é possível a expiação da culpa e a inclusão da esfera da transcendência de Deus no destino humano, podemos perceber que a culpabilização universal e total implica em um estado de desespero universal, como se fosse um esfacelamento do ser.

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O Significado Teológico-Político do Trabalho

Diante deste horizonte, surge a questão do significado teológico-político do trabalho. A ideia de que o trabalho pode dignificar a existência humana, inclusive com a possibilidade de alcançar uma vida tranquila, é questionada.

Por outro lado, a experiência cristã pode ser vista como o primeiro experimento religioso autodefinido em termos econômicos. Sob essa perspectiva, o capitalismo se desenvolve de forma parasitária em relação ao cristianismo. Sua dinâmica ritualística permite a tomada de consciência apenas da culpa, e não da relação de exploração que está na base de tal perspectiva econômica.

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A Retórica do Capital nas Origens do Estado de Direito Moderno

A retórica do capital nas origens do estado de direito moderno é a de que a relação de trabalho se estabelece a partir de um contrato entre sujeitos de direito que negociam livremente suas mercadorias no mercado.

No entanto, é interessante observar que, no capitalismo industrial e na sociedade salarial, os capitalistas (proprietários dos meios de produção) vão ao mercado para comprar a força de trabalho daqueles que só têm a sua força de trabalho para oferecer no mercado.

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A Luta por Direitos Sociais

Muitas batalhas foram travadas em nome do reconhecimento dos direitos sociais, como a limitação da jornada de trabalho e melhores condições salariais. No entanto, é importante reconhecer a dinâmica das relações sociais e, consequentemente, a mudança do capital. Como resultado, as formas de exploração do trabalho também mudam.

O Impacto do Trabalho no Campo

Um exemplo notável dessa mudança é a investida contra o trabalho rural e o impacto na vida camponesa. Isso é bem retratado no livro ‘As Vinhas da Ira’, de John Steinbeck, que denuncia o sofrimento imposto às famílias rurais dos Estados Unidos pela imposição do sistema financeiro.

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A Desmistificação de Símbolos de Liberdade

O livro desmistifica alguns símbolos da liberdade, como a famosa Rota 66, que é retratada como um espaço de sofrimento para as pessoas ansiosas por trabalho, sem uma relação direta com a liberdade.

A migração simboliza a ruptura das relações de amizade e familiares, além de ser palco de inúmeras violências. A chegada à terra prometida da Califórnia revela-se uma miragem, com trabalho escasso e salários extremamente baixos.

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A Dignidade Atrelada ao Trabalho

A dignidade atrelada ao trabalho não se apresenta de maneira tão imediata quando há uma forma violenta de exploração das pessoas. As mudanças do capitalismo impactam a vida e a dinâmica social e, no que se refere ao trabalho, parece possível identificar a ira e a revolta como algo que permanece.

O Fim da Sociedade Salarial

A ascensão da ideologia neoliberal entre os anos de 1960 e 1980 criou o espetáculo do empreendedor e, consequentemente, transferiu os riscos da atividade para o trabalho. Isso está fortemente ligado à ideia de culpa e culpabilização, já que os próprios trabalhadores são agora empreendedores de si mesmos.

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Conclusão

Com a consciência do sofrimento e a diminuição do horizonte de expectativas em relação às possibilidades de trabalho no mundo contemporâneo, a ira e a revolta podem se apresentar como o desespero universal em que, segundo Benjamin, podemos depositar alguma esperança de superar a ambígua e algo demoníaca condição de culpabilização.

Foto de Walter Benjamin. Crédito: Wikimedia

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