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Doação de Órgãos – Olhando para a Vida Onde a Morte Prevalece
Introdução
A doação de órgãos é um ato de generosidade que pode transformar vidas, mas envolve complexidades emocionais e logísticas. Aqueles que trabalham na linha de frente deste campo enfrentam desafios únicos. Vamos explorar a jornada de um enfermeiro que se dedica à captação de órgãos para transplantes, uma das profissões mais desafiadoras e recompensadoras na área da saúde.
A Dura Realidade de um Captador de Órgãos
No início de sua carreira, um enfermeiro chamado Carneiro se deparou com situações trágicas. Em um caso particular, ele teve que lidar com uma família que sofreu uma série de tragédias. O pai e o irmão da vítima foram baleados durante um roubo, levando à morte de ambos. Além disso, a mãe da vítima sofreu um ataque cardíaco fatal devido ao choque dos acontecimentos.
Em meio à dor, a irmã da vítima autorizou a doação dos órgãos do irmão, a única vítima que ainda tinha a capacidade de ajudar alguém mesmo após a morte.
Essa experiência marcou profundamente Carneiro, que se dedica à captação de órgãos para transplantes há 14 anos.
A Jornada Profissional de Carneiro
Carneiro trabalhou em diversos hospitais de renome, como o Hospital das Clínicas de São Paulo, o Hospital Israelita Albert Einstein e o Hospital Geral de Guarulhos. Atualmente, ele está no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em um hospital público no Grajaú, São Paulo.
Especializou-se em tanatologia, o estudo científico da morte, e seu trabalho diário envolve conversar com famílias que acabaram de perder um ente querido, para saber se autorizam a doação de órgãos que poderão ser utilizados em transplantes.
A Realidade da Morte nos Hospitais
Para Carneiro, há uma percepção errônea sobre o papel dos hospitais. Muitos veem os hospitais como lugares de cura, onde as pessoas são cuidadas e se recuperam. No entanto, ele acredita que, em uma sociedade onde a morte foi institucionalizada, os hospitais se tornaram o local onde a pessoa morre. Raramente as pessoas morrem em casa, cercadas por suas famílias e pessoas amadas. A morte geralmente ocorre nas mãos dos profissionais de saúde.
A Certitude da Morte
Ao perceber a realidade da morte nos hospitais, Carneiro viu que a doação de órgãos era algo especial, que faz uma grande diferença na vida das pessoas que aguardam um transplante. Ele decidiu se especializar no serviço de identificação de pessoas que acabaram de morrer e que têm potencial para doar órgãos.
No início de sua carreira, ele enfrentou estigma e preconceito, sendo chamado de ‘anjo da morte’ ou ‘urubu’. No entanto, ele encontrou força em uma frase que criou: ‘Eu vejo vida onde a morte prevalece’.
A Importância da Tanatologia
Para lidar melhor com um assunto tão delicado como a morte, Carneiro se especializou em tanatologia. Entender a morte é um processo de autoconhecimento, de humanizar a morte, que vai de encontro àquilo que você acredita, à sua espiritualidade.
Conversando sobre Doação de Órgãos
Falar sobre doação de órgãos com indivíduos que estão passando por um momento de dor profunda é uma tarefa delicada. Carneiro enfatiza a importância de ter uma abordagem humana e respeitosa.
Ele acredita que o melhor que os profissionais de saúde podem oferecer nesses momentos é o silêncio, bem como uma postura acolhedora e uma tentativa de entender quem era a pessoa que faleceu e a história que construiu em vida.
O Processo de Doação de Órgãos
Carneiro esclarece que o trabalho dele e de outros profissionais da área não é convencer os parentes a autorizarem a retirada dos órgãos, mas sim esclarecer como funciona o processo de doação e tirar todas as dúvidas que possam surgir.
Ele também destaca que, após a doação, o corpo é liberado para os ritos fúnebres totalmente preservado, contradizendo o medo comum de que a retirada dos órgãos deixará o corpo desfigurado.
A Pandemia da COVID-19 e a Doação de Órgãos
Durante a pandemia de COVID-19, o trabalho de Carneiro e de outros na área se tornou ainda mais difícil. Além do aumento de mortes, havia a incerteza sobre a segurança dos órgãos para transplante de pessoas que morreram de COVID-19.
A Importância de Conversar sobre a Doação de Órgãos
Carneiro acredita que é importante todos conversarem sobre o tema da doação de órgãos e deixarem claro aos parentes próximos se aceitam ou não que suas estruturas corporais sejam retiradas após a morte e usadas em transplantes.
Conclusão
Nesses 14 anos como captador de tecidos humanos para o sistema de transplantes, Carneiro aprendeu que a morte não deve ser encarada como uma inimiga, mas como parte de um processo. Ele acredita que a doação de órgãos é o maior ato de altruísmo que alguém pode ter, transformando a morte em uma oportunidade de dar vida a outros.
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