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Comando Vermelho e sua expansão na Amazônia peruana
A presença do Comando Vermelho (CV) na Amazônia peruana tem crescido de maneira alarmante, mostrando uma preocupante expansão do crime organizado no país. Este artigo explora o papel desempenhado pelo CV na região, suas estratégias e os impactos devastadores que sua presença causou à comunidade local.
O cenário na prisão de Pucallpa
Em Pucallpa, uma cidade de aproximadamente 325 mil habitantes e capital da região de Ucayali, a presença do CV é evidente até mesmo nas prisões. Na penitenciária local, que abriga mais de três vezes sua capacidade oficial, a bandeira do Brasil é pintada no chão do pátio, um símbolo inequívoco da hegemonia do CV.
O medo de falar abertamente sobre o CV é palpável entre os prisioneiros, pois é um grupo conhecido por sua brutalidade e estratégias de intimidação. Este temor é justificado, pois o CV é uma das facções criminosas mais perigosas do Brasil, com raízes que se estendem até as rebeliões prisionais da década de 1970.
> ‘É melhor não se envolver com eles’, adverte um preso nervoso ao mencionar o CV.
A expansão do CV na região
O CV tem expandido seu domínio na Amazônia peruana, assumindo o controle de rotas estratégicas de tráfico de cocaína na fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia. A cidade de Tabatinga, localizada na tríplice fronteira entre esses países, tem sido uma posição-chave para o grupo.
No entanto, a presença do CV na região não passou despercebida. O grupo se envolveu em uma disputa sangrenta pelo controle da cidade com outras duas facções: a Família do Norte e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Este conflito enfraqueceu todos os grupos envolvidos, permitindo o surgimento de um novo grupo dissidente, Os Crias.
A pandemia de Covid-19, que paralisou o mundo em 2020, também afetou o CV. Com seu domínio reduzido, o grupo se deslocou para Ucayali, uma região peruana que faz fronteira com o Brasil, onde o cultivo de coca, principal ingrediente da cocaína, está em expansão.
Dados da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida Sem Drogas (DEVIDA) do Peru mostram que em 2022 havia 14.531 hectares de plantações de coca na região, quase quatro vezes a área registrada em 2020.
A vida sob o domínio do CV
A expansão do CV na região afetou profundamente a vida dos moradores locais. Muitos, como Maria*, uma jovem Shipibo-Konibo de uma comunidade indígena em Ucayali, foram cooptados pelo grupo e se tornaram parte de suas operações.
Maria foi convencida por seu namorado, membro do CV, a se envolver no tráfico de drogas. Ela foi presa ao tentar entregar pasta base de cocaína a seu cunhado, que também estava ligado ao CV. Maria passou os últimos três anos na prisão de Pucallpa por tráfico de drogas.
Na prisão, ela conheceu outra mulher que era membro do CV. Ambas tinham histórias semelhantes e compartilhavam a mesma experiência amarga de se envolverem em atividades criminosas.
> ‘Elas usam mulheres para transportar drogas. Mas ao fazer isso, você pertence ao CV. Uma vez que você está dentro, não é fácil sair’, diz Maria.
Maria, uma das 113 mulheres na prisão, foi condenada por tráfico de drogas.
A estratégia do CV
O controle do CV sobre o território em Ucayali não seria possível sem a cooperação dos peruanos que foram cooptados pelo grupo para atuar como produtores e operadores logísticos na rede de tráfico de drogas liderada pelo Brasil.
O grupo emprega diversos métodos para manter o controle sobre seus membros, incluindo tatuagens codificadas que indicam a filiação à organização. De acordo com Maria, uma vez que você se junta ao CV, é quase impossível sair.
O CV também controla todas as partes da cadeia de suprimentos, desde a produção de base de cocaína até a venda e transporte das drogas. Isso significa que os produtores de drogas locais estão efetivamente presos ao CV, pois não podem transportar suas drogas sem o conhecimento do grupo.
> ‘Eles controlam as rotas fluviais, os suprimentos químicos, têm barcos para logística’, diz um agente da Polícia de Inteligência Regional.
O impacto nas comunidades locais
As comunidades locais têm sido fortemente afetadas pela presença do CV. Em particular, os jovens têm sido atraídos para o tráfico de drogas, devido à falta de outras oportunidades de emprego e educação na região.
Alguns dos jovens se tornaram ‘mochileiros’, transportando drogas a pé pela floresta até a fronteira com o Brasil. Esta é uma tarefa perigosa e extenuante, mas que pode render um bom dinheiro para esses jovens.
> ‘Você pode começar um negócio. Dessa forma, você não precisa andar e pode ganhar dinheiro com mais facilidade, sem tanta dor nas pernas’, diz um dos mochileiros.
No entanto, deixar o negócio do narcotráfico pode ser muito mais difícil do que entrar.
Conclusão
A expansão do Comando Vermelho na Amazônia peruana é um lembrete preocupante do alcance global do crime organizado. Enquanto o grupo continua a expandir seu domínio na região, é crucial que as autoridades tomem medidas para deter sua expansão e proteger as comunidades locais de sua influência destrutiva.
*Os nomes foram alterados para proteger a identidade dos indivíduos.
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