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A transcendência positiva da auto-alienação do trabalho – uma análise marxista
Por João da Silva Santos
Introdução
Marx e sua crítica à categoria de trabalho alienado têm sido o foco de diversos estudos. Este artigo busca analisar essa crítica e a necessária transcendência do trabalho alienado, conforme apresentado em seus Manuscritos de Paris e interpretado por Istvan Meszaros em ‘A teoria da Alienação em Marx’.
1. A concepção marxista do trabalho alienado
1.1 O contexto dos Manuscritos de Paris
Os Manuscritos de Paris apresentam o primeiro vislumbre da crítica marxista à economia política e à filosofia idealista de Hegel. Marx identifica o trabalho alienado como o problema central desses sistemas de pensamento, que consideram as categorias particulares de sua época como universais e naturais.
1.2 A ontologia da autoalienação do trabalho
Marx argumenta que o trabalho alienado é fundamental para a estrutura de nossa sociedade, com a propriedade privada surgindo como consequência deste tipo de trabalho. Essa percepção surge no final dos Manuscritos, quando Marx discute o sistema de dinheiro, indicando que a autoalienação do trabalho é uma dimensão ontológica básica.
1.3 A síntese em estado de nascimento
Os Manuscritos são considerados uma ‘síntese em estado de nascimento’, pois apresentam a categoria de trabalho alienado pela primeira vez. Marx busca demonstrar as confusões teóricas de seus predecessores, argumentando pela transcendência total da alienação.
2. A alienação e sua transcendência
2.1 O estranhamento do objeto do trabalho
Marx descreve quatro aspectos do estranhamento do objeto do trabalho, que resumem a concepção de alienação: a externalidade do trabalho, o estranhamento-de-si, o estranhamento do gênero humano e o estranhamento dos outros seres humanos.
2.2 A necessidade da transcendência
A teoria da alienação de Marx aponta para a necessidade da transcendência de todas as categorias auto-alienadas e de todo o sistema reificado. Isso significa que a atividade produtiva deve ser redirecionada para mediar a relação sujeito-objeto de maneira humana.
2.3 A superação da alienação
Marx defende a superação da alienação, não da gênese da sociedade humana universal. Ele argumenta que as estruturas de dominação e exploração capitalistas, baseadas no trabalho alienado, devem ser superadas para que a ‘essência humana’ possa ser reapropriada.
3. A inversão entre mediação de primeira e segunda ordem
3.1 A mediação de primeira ordem
A mediação de primeira ordem refere-se à interação básica do ser humano com a natureza, mediada pela atividade humana. Esta é uma atividade produtiva que é essencial para a existência do ser humano.
3.2 A mediação de segunda ordem
A mediação de segunda ordem, por outro lado, refere-se ao modo como a objetivação se manifesta no modo de reprodução social de uma determinada sociedade. No caso da sociedade capitalista, as relações mediadoras de intercâmbio são alienadas.
3.3 A inversão entre mediação de primeira e segunda ordem
A inversão entre mediação de primeira e segunda ordem ocorre quando a forma dada do trabalho (assalariado) é tomada como forma universal (atividade ontológica essencial). Isso leva à defesa e manutenção da ordem social capitalista como natural e historicamente infinita.
4. Conclusão
A crítica de Marx ao trabalho alienado e a necessidade de sua transcendência são essenciais para entender a condição humana na sociedade capitalista. Ao rejeitar a ideia de uma ‘natureza humana’ fixa e egoísta, Marx argumenta pela possibilidade de uma transformação social que permita a plena realização da natureza humana, através da superação da alienação do trabalho. Essa perspectiva oferece uma visão radicalmente diferente daquela promovida pelos defensores do status quo capitalista, abrindo possibilidades para uma sociedade mais justa e igualitária.
Referências
Marx, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2021.
Mészáros, István. A teoria da alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2016.
Lessa, Sergio. Alienação e Estranhamento. Gesto Debate, São Paulo, v. 16, p. 1-30, 2018.
Lessa, Sergio. Lukacs: Trabalho, Objetivação, Alienação. Trans/Form/Ação, São Paulo, v. 15, p. 39-51, 1992.
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