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A Exploração das Feridas do Passado – Escavações no DOI-Codi Iluminam a História Brasileira
Introdução
Há 44 anos, a Lei da Anistia foi promulgada, iniciando o processo de redemocratização do Brasil, após um período de ditadura militar. Essa anistia é um marco histórico que merece ser lembrado e debatido. Recentemente, um novo esforço foi feito para trazer à luz os horrores desse regime, através das escavações no DOI-Codi.
O DOI-Codi e Sua Significância
O DOI-Codi, localizado em São Paulo, foi um dos locais mais simbólicos e nefastos da ditadura militar brasileira. Conhecido como o epicentro de tortura e assassinato de opositores do regime, estima-se que mais de 50 pessoas foram mortas ali entre 1969 e 1975, incluindo o jornalista Vladimir Herzog.
As Escavações no DOI-Codi
Recentemente, o local passou por uma varredura completa, revelando vestígios de um passado sombrio. Foram encontrados traços de material biológico, itens pessoais e marcas que podem ter sido deixadas por prisioneiros. Surpreendentemente, um fragmento de cerâmica indígena pré-colonial também foi descoberto.
Todos os itens encontrados estão sendo processados e estudados no Laboratório de Arqueologia Pública da Unicamp. Testemunhos de prisioneiros políticos e outras fontes históricas estão sendo utilizados como apoio à pesquisa.
O Impacto das Descobertas
As descobertas feitas durante as escavações não são apenas vestígios físicos. Elas também despertaram memórias dolorosas para muitos que foram perseguidos durante o regime militar.
Durante as escavações, centenas de pessoas puderam acompanhar de perto o trabalho dos pesquisadores. O grupo recebeu inclusive ex-prisioneiros políticos que passaram pelo local durante o regime militar.
As memórias dos prisioneiros e torturados recuperam minúcias, que se tornam visíveis nos vestígios arqueológicos. Dessa forma, a empreitada pode ajudar a ativar memórias dos detalhes mais importantes do funcionamento do DOI-Codi durante o regime, que podem ter sido apagadas pelo tempo ou pelo trauma.
A Necessidade de Lembrar
A importância de escavar e lembrar o passado é crucial para entender e criticar o presente.
‘É preciso lembrar que a ditadura não é uma narrativa’, diz Andres Zarankin, professor do Departamento de Arqueologia e Antropologia da UFMG. ‘As marcas das torturas, os depoimentos dos sobreviventes são provas, que em outros países se usam para processar os responsáveis. Aqui, já que existe a anistia, tentamos recuperar esses elementos para que sirvam para enxergar criticamente esse momento.’
O Futuro do Edifício do DOI-Codi
Desde 2001, há pedidos para que o edifício do DOI-Codi seja transformado em um memorial. Em junho de 2021, o [Ministério Público] de São Paulo entrou com uma ação judicial para implementar no local um espaço de memória dedicado à reflexão sobre a ditadura.
Memorial Virtual e Filme
Enquanto uma decisão sobre a criação de um memorial físico não é tomada, informações e materiais estão sendo reunidos para a criação de um memorial virtual. Além disso, um filme sobre as escavações e a memória histórica do DOI-Codi também está sendo produzido pela cineasta Carla Gallo.
Reflexão Final
Tocar na ferida do passado é uma necessidade para entender e criticar o presente. Ainda vivemos em um país marcado pela violência, e lembrar do passado pode ajudar a iluminar os problemas atuais.
‘Tocar nessa ferida do passado e lembrar, em certa medida, o que continua acontecendo hoje.’ diz Claudia Plens, professora do Departamento de Arqueologia da Unifesp. ‘Essa tradição de sempre virar a página sem apurar nos faz ter essa normalidade de aceitar a violência como parte da nossa estrutura social, a ponto de a gente às vezes nem identificar que ela é um um fator estruturante’, completa Deborah Neves, coordenadora das escavações no prédio.
Conclusão
As escavações no DOI-Codi são um passo importante para trazer à luz um período obscuro da história brasileira. Através dessas descobertas, podemos começar a entender melhor o impacto do regime militar na sociedade brasileira e trabalhar para garantir que esses erros não sejam repetidos no futuro.
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